
“Desde a imprensa de Gutemberg, o jornalismo sempre teve que lidar com o avanço tecnológico”, diz especialista sobre IA
A inteligência artificial é o tema do momento, mas ainda persistem incertezas e controvérsias em torno de sua aplicação, especialmente no jornalismo. Esse foi o foco do painel ‘Inteligência Artificial Generativa aplicada à produção de conteúdo informativo: como redações jornalísticas e assessorias de comunicação podem usar uma ferramenta criativa, mas imprecisa’, realizado na manhã desta segunda-feira (19), às 11h, durante o Congresso SET Expo.
O debate foi mediado por Márcio Carneiro dos Santos, jornalista, professor da UFMA e coordenador do Grupo de Trabalho sobre Inteligência Artificial da SET. Abrindo a conversa, Santos contextualizou a discussão ao mencionar o lançamento do ChatGPT pela OpenAI no final de 2022 como um marco da tecnologia recente, que provocou intensos debates e adaptações na sociedade, no mercado e na academia.
Diante da ideia de que tecnologias podem substituir ou até mesmo destruir o jornalismo, Santos avaliou a recorrência do cenário, sempre presente na história da Comunicação: “desde a imprensa de Gutemberg, o jornalismo sempre teve que lidar com o avanço tecnológico”.
Embora os recursos da inteligência artificial ofereçam ganhos expressivos de produtividade, eles também demandam cautela para evitar erros e imprecisões informativas. Thomas K. Pomerancblum, gerente geral de Engenharia de Softwares do UOL, apresentou diversas iniciativas que o portal desenvolve a partir de recursos da inteligência artificial.
O especialista destacou a conexão dos softwares de IA a bancos de dados selecionados, criando o processo de RAG (Retrieval-Augmented Generation), que consiste numa conferência da resposta da IA por ela mesma, antes de oferecer a informação ao usuário. É possível também usar o próprio portal como fonte, além de documentos oficiais e referências definidas, fazendo com que o software pesquise informações apenas dentro das fontes oferecidas.
Segundo Pomerancblum, o portal ainda faz uso da IA para elaborar rondas de pauta e monitoramento de notícias, num programa que identifica temas emergentes e alerta a apuração da redação de acordo com as escolhas editoriais do site. “A revisão humana nunca será dispensada, mas aperfeiçoar a interação com a IA para diminuir os riscos é o melhor ponto de partida.”
Para Felipe Andrade, VP de Vendas do CIS Group, em sua vastidão de origens, finalidades e aplicações, a inteligência artificial pode ser muito rica. Ele apresentou o conceito de AI Multimodal, que consiste na combinação de diferentes tipos de IA com o objetivo de chegar o mais próximo possível da inteligência humana. Uma ideia pertinente para o jornalismo, campo em que a capacidade humana, a exemplo da interpretação, é insubstituível, mas muito auxiliada pela inteligência artificial.
Dialogando com os demais painelistas, Andrade reforçou a ideia da tecnologia como “copiloto” – um auxiliar em tarefas diárias, que apesar de desenvolver atividades de certa complexidade, não retira a responsabilidade do ser humano pela integridade das tarefas que desenvolve.
O painel teve também a participação de Rafael Sbarai, Head de Produto e Operações do Cartola Express na Globo; e de Kohei Kambara, chefe da divisão de Pesquisa de Sistemas de Transmissão Avançados da NHK | STRL.